“E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda;
e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do Senhor
teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir”. Deuteronômio 28:13
Por Bruno Jardim
Logo após anunciar toda a Lei entregue por Deus, Moisés cita quais
seriam as consequências na vida daqueles que fossem obedientes aos mandamentos
do Senhor. E a principal das consequências é que o Senhor colocaria, os que
assim agissem, como sendo cabeça e não cauda; estando em cima e não debaixo.
Ora, a sociedade da época estava mergulhada em profundas trevas, a Lei
entregue por Deus foi um feixe de luz que serviu de direção e também de discernimento,
levando o homem a perceber a diferença entre o que era certo e errado. O povo
que desse ouvidos a Lei de Deus teria um diferencial por carregar a sabedoria
divina e como tal, de forma natural, seria colocado por cima, como cabeça, se
tornaria um povo a frente do seu próprio tempo.
Dentro do contexto do Antigo Testamento ser cabeça ou cauda, era uma
forma de representar dois tipos de classes bem distintas, repare o que Isaías
diz a respeito:
“Pelo que
o SENHOR corta de Israel a cabeça e a cauda, a palma e o junco, num mesmo dia. O
ancião, o homem de respeito, é a cabeça; o profeta que ensina a mentira é a
cauda. Porque os guias deste povo são enganadores, e os que por eles são
dirigidos são devorados.” Isaias 9:14 – 15
O Ancião representava o homem de respeito, o cabeça. Já o profeta que
ensina a mentira é a cauda. A verdade
está para o que foi colocado por cabeça assim como a mentira está para o que é colocado
por cauda. Muito mais que uma questão de posição social, trata- se de uma
questão de caráter.
Ancião como Cabeça
Hoje em dia temos uma visão de ancião como sendo alguém idoso, incapaz
de produzir alguma coisa.
Infelizmente é este o tipo de tratamento que
temos dado a eles, mas “no Antigo
Testamento, por exemplo, ancião não significava apenas uma pessoa idosa, de
cabelos brancos, no caso da vida. Além do significado comum, era-lhe atribuída
a característica de pessoa respeitável, chefe natural da comunidade ou tribo;
conselheiro ou juiz do povo.” (Conde, Emílio. Tesouro de Conhecimentos
Bíblicos – História, Geografia e Usos e costumes do Povo de Israel, 10ª
Impressão 2011, pág. 49. CPAD, Rio de Janeiro – RJ – Brasil).
Portanto, no Antigo Testamento o vocábulo “ancião” nem sempre está
relacionado ao significado de homem velho, mas a um grupo social ou classe de
pessoas respeitadas pela sociedade. Ainda que a maioria dos conselheiros fossem
de idade avançada, essa não era uma condição para fazer parte do grupo de
anciões.
Os anciões eram os chefes das tribos, os conselheiros do povo, pessoas
respeitadas pela sociedade. Eles representam a figura de uma vida madura e frutífera,
um portador da verdade, alguém que encarna o verbo da Palavra. Este é o perfil
de quem foi chamado para ser cabeça.
Já dizia o Tio Bem Parker, isso mesmo, o tio do homem aranha: “um grande poder traz grandes responsabilidades”. Quanto maior o conhecimento e o poder, maior a responsabilidade de
servir. Ser colocado por cabeça não é para ostentar, mas sim para se sujeitar,
servindo de meio para iluminar a vida daqueles que ainda estão em trevas.
Profeta Mentiroso como Cauda
“O dragão chicoteia com o rabo.” Bruce Lee
Profetas que ensinam a mentira não é uma invenção de hoje, é algo que
vem desde o começo da história. O cajado que eles usam para “pastorear” seu
rebanho é a cauda.
Por onde eles passam, multidões são arrastadas por conta de seus discursos
enganadores. Só buscam devorar a lã de suas ovelhinhas. Tais profetas são como
um dragão alado, veja que lemos em Apocalipse:
“E viu-se outro sinal no céu, e eis que era um
grande dragão vermelho....E a sua cauda
levou após si a terça parte das estrelas
do céu e lançou-as sobre a terra...” Apocalipse 12:3ª - 4ª
Da mesma forma que o grande dragão, que se chama diabo e Satanás,
conseguiu enganar a terça parte do céu, muitos hoje em dia são enganados e
chicoteados por sua cauda. Por onde estes profetas mentirosos passam não sobra
nada, só o que fica são vidas machucadas e cheias de traumas espirituais.
Estes usam do nome de Deus para se servir, e não para servir. Entram no “ramo”
da fé no afã de se elucubrarem, são movidos pela ganância, pois o que vale é ser
cabeça e não cauda, a cegueira da cobiça não o fazem perceber que assim agindo
estão justamente sendo cauda e assim vão precipitando a todos que os seguem.
A responsabilidade de ser Cabeça e o uso correto
da Cauda
A responsabilidade daqueles que foram colocados por Deus por cabeça, ou
seja, os que encarnam a Palavra e buscam viver baseados em sua luz é que “sejam irrepreensíveis e sinceros, filhos de
Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual
resplandeceis como astros no mundo; retendo a palavra da vida...”
Filipenses 2:15 -16ª
Quem está como cabeça tem a responsabilidade de ser portador das boas novas,
de ser um mensageiro do futuro, é ser luz no mundo para que as nações andem à luz
de Cristo.
Da mesma forma que Deus designou para Moisés setenta anciãos, para ajuda-
lo a levar a carga do povo (Números 11: 14 o 17), Jesus designou setenta
discípulos, e os enviou adiante, de dois em dois, para todas as cidades e
lugares aonde Ele havia de ir (Lucas 10.1).
Ainda que a figura do grupo social dos anciãos tenha caducado, sua
essência permanece vigente, pois em Cristo somos chamados para exercermos o ministério
de ser cabeça, indo ao encontro dos anseios do mundo dispostos de dois em dois para servir em amor.
Interessante que da mesma forma, os nossos membros do corpo estão
dispostos em pares, prontos para atender aos comandos da nossa cabeça. Paulo
escreve: “Assim como o corpo é um, e tem
muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, formam um só corpo, assim é
Cristo também” 1 Coríntios 12:12.
É através dos membros que nos relacionamos com o mundo exterior: com as
mãos podemos socorrer e com os pés nos locomover em direção ao necessitado. Os
membros estão voltados para fora do corpo, assim, como a igreja. Não é à toa
que no vocábulo grego “ekklesia” (igreja), significa “tirados
pra fora”, ou “voltados pra fora.”
A igreja precisa exercer seu ministério de ser cabeça, indo adiante, estando
a frente do seu tempo a fim de preparar o mundo para o Dia de Cristo, onde Ele
se manifestará visivelmente e todo olho O verá.
O corpo precisa da cabeça e dos membros, assim como também precisa da
cauda.
Não, não me refiro a cauda dos profetas mentirosos, está só serve para
chicotear e machucar as pessoas. Mas, sim pelo fato da cauda exercer
importantes funções no corpo, e isto fica claro quando analisamos os corpos dos
animais. É uma analogia que serve perfeitamente para o cumprimento da nossa
missão.
Em cada animal a cauda tem uma função, por exemplo: nos gatos e cães ela
serve de equilíbrio na movimentação.
No gado, serve para espantar insetos e
proteger as genitálias e nos macacos, serve para locomoção.
Repare no preço que temos pago ao darmos ouvido a mensagem dos profetas
mentirosos, que só querem nos levar a posição de “cabeça”, fazendo- nos esquecer
que precisamos dos membros e da cauda.
Como caminhar sem equilíbrio no movimento, sem proteger a fonte dos
frutos, sem espantar os insetos portadores de doenças? Tudo isto só é possível
se pouparmos a cauda. Só que ao invés disto temos praticado “caudectomia” (ato de cortar a cauda) e
o preço que pagamos por tal ação é o desequilíbrio.
A cauda é um lembrete de onde viemos, é um sinal de humildade, só que no
corpo dos mentirosos, ela torna-se em um instrumento de soberba e opressão, já
no corpo de quem é portador da verdade, ela serve de equilíbrio e proteção.
Em Cristo, resgatamos o equilíbrio (cauda), a interação (membros) e a
razão (cabeça). Entendemos que somos embaixadores da parte de Cristo, e que nos
foi confiado o maravilhoso ministério da Reconciliação (1 Coríntios 5:20).
Diante disto, a questão de ser cauda ou cabeça torna-se irrelevante,
pois “convém que Ele cresça e que eu
desapareça” João 3:30.
2 comentários:
Muito bom o texto, bastante pertinente aos nossos dias, pois estamos cercados de falsos profetas anunciando que devemos ser cabeça e não cauda. Por conta, disso tem muita gente abandonando seu emprego e abrindo um negócio. Então, faço uma paráfrase de Paulo: porventura são todos empreendedores? são todos líderes? são todos profissionais liberais? rsrsr.
É bem verdade que no ocidente desprezamos o idoso, o ancião. No nossa sociedade que valoriza a produtividade, todo aquele que, a seus olhos, não tem mais energia para produzir é descartado, mesmo possuindo um conhecimento elevado acumulado durante sua longa existência. No oriente o ancião é respeitadíssimo, é tido como sinônimo de sabedoria e bom senso.
A cauda é muito importante, quem viu Crônicas de Nárnia percebe isso, quando um personagem perde a sua cauda e implora a Aslam, o leão, que faça sua cauda crescer novamente. O que seria dos micos sem sua cauda?
Elucidativo e equilibrado. Parabéns!
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