Por Bruno Jardim
Na soberba da vida está o desejo
pelo poder. Soberba é querer ser
aquilo que não é. O contrário dela é a humildade. Soberba é o pecado em que o
diabo caiu ao querer ser maior que Deus.
A Palavra de Deus diz que “O justo florescerá como palmeira; crescerá
como cedro no Líbano.” Salmos 92: 12
Quero chamar atenção para o fato
do crescimento do justo ser semelhante ao cedro no Líbano. O cedro cresce
devagar, ele não tem pressa alguma para crescer. Devagarinho ele vai crescendo
até atingir 40 metros de altura e 14 metros de diâmetro. Nos primeiros três
anos de vida, suas raízes crescem cerca de um metro e meio de profundidade,
enquanto que na superfície, durante este mesmo período, ele cresce somente
cinco centímetros de planta. Somente a partir do quarto ano é que a árvore
começa a crescer.
Deus trabalha de forma paulatina.
Entre o dia e a noite, existe a tarde. Entre a infância e a vida adulta, existe
a adolescência. Deus não queima etapas, Ele age através do Caminho e não por
atalhos.
Para cada pessoa existe um tempo
de crescimento, um tempo de dá frutos. “É
como árvore plantada junto a corrente de águas que, no devido tempo, dá seu fruto, e cuja folhagem não murcha...” Salmos 1:3.
As propostas indecentes do
inimigo tem como objetivo, por mais paradoxal que seja, acelerar o nosso
processo de crescimento, fazendo com que cresçamos antes da hora determinada
por Deus.
O cedro busca primeiro ter suas
raízes bem fundamentadas, e para tal, ele age de forma subversiva, pois antes
de querer “crescer para cima” ele “cresce para baixo”. Caso o cedro crescesse os
40 metros para o qual ele está destinado, sem antes ter suas raízes bem
firmadas no solo, ele seria uma árvore soberba e viria abaixo.
Em Efésios 3: 16 ao 19, Paulo
diz: “Para que, segundo a riqueza da sua
glória, (Cristo) vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu
Espírito no homem interior; e , assim habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em
amor, a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura,
e a profundidade e conhecer o amor
de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a
plenitude de Deus.”
Paulo deixa claro que é no amor, onde precisamos estar arraigados,
ou seja, fixados de maneira definitiva e profunda. Este processo de
arraigamento, ou enraizamento, é silencioso e invisível pois não ocorre na
superfície, mas sim no subterrâneo.
Assim como o cedro, o amor se
preocupa primeiro em criar raiz, se estruturar para então só depois disso
buscar crescer. O amor não é barulhento, não chama atenção para si e tão pouco
se vangloria, antes, ele é discreto, cresce sem chamar atenção.
Deus trabalha no silencio, o
problema é que somos extremamente ansiosos e logo queremos mostrar ao mundo o que
temos, só que antes da hora. É no silencio que Deus faz Sua gestação, nos
preparando, nos dando toda a firmeza necessária para suportarmos a altura que
estamos destinados a atingir.
Além de ser discreto, este
processo de enraizamento também é doloroso. Pois a raiz precisa rasgar a terra,
a fim de encontrar nela um lugar para fixar-se. Da mesma forma, o amor de Deus
nos leva ao quebrantamento, rasgando e quebrando nosso coração rochoso, tirando
o que não presta, adequando - o para receber o que Deus tem reservado.
Quebrar, parte- se do princípio
de mexer naquilo que está enrijecido, é como um vaso que saiu da roda do
oleiro. Enquanto ele está na roda em movimento, o barro fica maleável,
permitindo que o oleiro dê ao vaso a forma que quiser. Mas, ao sair da roda, o
barro endurece, o vaso se torna rígido. Uma vez duro, só tem uma maneira de
fazer um vaso novo: quebrando-o. E isso dói, mas se faz necessário.
Profundidade implica em
intimidade. É no silêncio da intimidade que encontramos o discernimento da
eloquência de Deus, sem intimidade o que resta é uma torre de Babel, uma grande
confusão.
“O amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que
nos foi outorgado” Romanos 5:5b. O resultado deste amor derramado em nossos
corações é a esperança que não
confunde, mas gera entendimento.
Paulo completa dizendo que
precisamos está arraigados em amor a fim de compreender qual seja a altura, profundidade, largura e comprimento
do amor de Deus.
Quando se fala de altura,
profundidade, largura e comprimento, está se falando de plenitude, é o
preenchimento do espaço. O amor de Deus abrange a tudo, não sobra nada.
Deus tem preparado uma altura e
um comprimento para cada homem atingir. Mas, para tal, precisamos considerar a
profundidade e a largura respectivamente.
Altura e Profundidade
Não tem como experimentar a
altura sem antes passar pela profundidade. É no ambiente silencioso e doloroso
da profundidade que ocorre a gestação, não podemos jamais queimar esta etapa.
Durante este processo é fundamental termos paciência e discernimento para não
ficarmos confusos quanto ao que está acontecendo.
Devemos experimentar esta altura
que Deus nos preparou, mas sem perder o chão de vista.
Lembro-me da história de Ícaro, na
mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, um dos homens mais criativos e habilidosos
de Atenas, conhecido por suas invenções e pela perfeição de seus trabalhos
manuais.
Dédalo projetou asas, juntando
penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fios e fixando-as com cera,
para que não se descolassem. Estando o trabalho pronto, o artista, agitando
suas asas, se viu suspenso no ar. Equipou Ícaro e o ensinou a voar.
Então, antes do voo, Dédalo advertiu
seu filho de que deveria voar a uma altura média, nem tão próximo do sol, para
que o calor não derretesse a cera que colava as penas, nem tão baixo, para que
o mar pudesse molhá-las.
Ícaro deslumbrou-se com a bela imagem do sol e, sentindo-se atraído,
voou em sua direção, esquecendo-se das orientações de seu pai. A cera de
suas asas começou rapidamente a derreter e logo Ícaro caiu no mar e morreu.
Temos que voar com as asas do
Altíssimo. Deus não tem limites, mas Ele nos deu limites. Nossa atitude deve
ser compatível com a altitude que podemos suportar. Portanto, antes de querer
voar precisamos cavar, a fim de aprofundar nossas raízes.
Comprimento e Largura
Se a altura diz respeito ao poder
e a profundidade ao preparo, quando se fala de comprimento, diz respeito a
validade, a durabilidade daquilo que Deus tem para fazer em nossas vidas.
Se estamos enraizados em amor,
logo os frutos provenientes desta árvore são eternos, pois cada árvore
frutifica conforme sua espécie. Se o amor é eterno, logo, as obras de Deus
realizadas em nós, em amor, possuem um comprimento, uma validade que rompem com
o nosso horizonte existencial.
Uma vida que não é vã, mas que cumpre
com o seu propósito, é uma vida que continua ecoando mesmo depois que morre. São
como as estrelas, que mesmo depois de morta, ainda sim continuam nos
presenteando com seus brilhos.
Se para a altura existe a profundidade,
para o comprimento existe a largura.
Largura diz respeito a
abrangência, ou seja, enquanto estamos vivendo para cumprir com o propósito da nossa
vida, temos que entender quem será atingido dentro do raio de ação da nossa
atuação. Quem está inserido nele? Quem será beneficiado?
Ao sair em direção do comprimento
do amor, devemos prestar atenção em quem está inserido na largura deste mesmo amor,
isto é, se preocupar em amar ao próximo.
Amar ao próximo não se resume
apenas a quem está no mesmo tempo e espaço que o nosso, mas também a quem virá
depois de nós. Diz respeito as futuras gerações. Amar é viver de forma
sustentável, garantindo que o próximo (de hoje e de amanhã) também tenha
condição de desfrutar dos recursos desta terra. A largura está atrelada ao
comprimento.
Poder para Prover
O que Deus faz em nós é pensando
no bem de todos. Todo poder que Ele nos dá é para que seja uma meio pelo qual
possamos prover. Ou seja, Deus nos
coloca em uma posição de poder para sermos um canal de provisão. Fomos chamados para servir, toda
sabedoria e poder é para atingir este fim.
Deus pega o menor e transforma no
maior, assim como Ele faz com o grão de mostarda, que “embora seja a menor entre
todas as sementes, quando cresce, torna- se uma das maiores plantas e atinge a
altura de uma árvore, de modo que as
aves do céu vêm fazer os seus ninhos em seus ramos.” (Mateus 13:32)
Repare que no fim, tudo o que
Deus faz em nós é pensando em servir ao outro. Certa vez, o filósofo
positivista Augusto Comte disse que deveríamos “saber, para prever a fim de prover.”
Encontro eco com a postura de José
do Egito, que após ter sido vendido como escravo pelos irmãos, Deus o levanta
dentro do Egito, dando- lhe poder e sabedoria no que tange a administração de
recursos. Toda esta sabedoria o levou a prever a fim de prover.
Durante a seca, que atingia toda
a região, Jacó envia seus filhos para comprar mantimento no Egito. Ao chegarem
ao Egito, encontram-se com José, mas não o reconhecem, porém José os reconhece
e ao invés de se usar todo aquele poder para se vingar de seus irmãos, ele o
usa para trazer provisão, veja o que ele diz:
“Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá, pois foi para salvar vidas que Deus me
enviou adiante de vocês.” Gênesis 45:5
Que senso de propósito! Provisão
tem a ver com pro atividade, é preparar de antemão, é pensar no ponto futuro, é
ser enviado adiante a fim de prover. Uma vida de humildade nos leva a viver em função
de Deus e do próximo.
Para alcançarmos a altura,
precisamos da intimidade e da profundidade, ou seja, oração. Ao atingir o comprimento do amor, precisamos nos importar
com as pessoas que estão inseridas na largura, ou seja, ação. Oração e ação, profundidade e largura, são os meios para
alcançarmos a altura de Deus e o comprimento do próximo em amor e humildade, sem
soberba.
Se a soberba nos levar a ser o
que não somos, a humildade nos leva a alcançar aquilo pelo qual Cristo nos
alcançou.
Um comentário:
Belíssimo texto. Lições preciosas para nossa vida. Que Deus continue derramando sabedoria e revelação para instruir todos aqueles quanto desejarem o conhecimento do Altíssimo.
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