sábado, setembro 19

Face a Face com o Inimigo II – Pupila




Por Bruno Jardim

Dando continuidade à série Face a Face com o Inimigo, falaremos hoje a respeito da concupiscência dos olhos. Tal cobiça está diretamente atrelada ao pecado da avareza e da posse.  

Os olhos constituem-se em uma porta de entrada e a cobiça do olhar é onde tudo começa. Talvez por isso que o rei Davi tinha uma preocupação especial com seus olhos, certa vez ele orou assim:  

Guarda- me Deus como a menina dos olhos, esconde-me à sombra das tuas asas.” (Salmos 17:8)

Qual seria o motivo de tanta preocupação com a menina dos olhos? Porque Davi pede à Deus para que o guardasse como ela? Para encontrar a resposta, precisamos primeiro descobrir o que é a menina dos olhos.

Menina dos olhos refere- se a nossa pupila dos olhos. Pupila é um termo oriundo do latim, que significa menininha, ou menina dos olhos, é a parte do olho, como um orifício de diâmetro regulável, que está situada entre a córnea e o cristalino, e no centro da íris. É a responsável por regular a luz que passa pela retina. Portanto, a pupila serve de controle de entrada, funcionando como uma espécie de filtro.

Mesmo tendo uma responsabilidade tão grande, não podemos nos esquecer de que nossa pupila dos olhos não passa de uma menininha, e como tal, ela requer de nós um cuidado especial. Assim como todo pupilo precisa de um mentor, da mesma forma nossa pupila dos olhos também precisa de um.

Mentor é alguém que compartilha sua sabedoria, experiência e conhecimento com pessoas menos experientes. Ele é fundamental para o amadurecimento do pupilo, ajudando-o a analisar implicações, consequências ou relações de causa e efeito nas situações mais críticas.  

Por trás deste pedido de Davi à Deus para que o guardasse como a menina dos olhos, estava o desejo de ter sua pupila dos olhos sob os cuidados da mentora do Pai.

A mentora do Pai acontece mediante a renovação de nossa mente, que gera em nós conscientização e não proibição. Nossa mente renovada precisa ter o controle de nossa pupila, não podemos nos dá ao luxo de deixar está menina solta por ai, colocando os olhos onde não foi chamada. Como toda menininha, nossa pupila é inocente e imatura e caso não seja acompanhada de perto, ela irá torna- se em uma porta de entrada para a concupiscência dos olhos. Basta um piscar de olhos, um descuido com a pupila que já é o suficiente para ela aprontar. Ela adora o que está na moda, nossa pupila é pop e como todo pop não poupa ninguém, nem mesmo a Davi.

Certa vez, Davi enviou seus homens para guerra, porém ele mesmo não foi, preferiu ficar no conforto de seu palácio. Enquanto os soldados lutavam contra os amonitas, o rei resolve tomar um ar no terraço do palácio e dali de cima, tendo uma visão panorâmica e privilegiada de seu reino, ele vê Bate – Seba, e fica impressionado com a beleza daquela mulher ao vê-la banhar-se, então o rei a seduz e a possui (2 Samuel 11:1-4).

Naquele momento por não guarda sua menina do olhos, o rei se deixou seduzir por outra menina. Bate-Seba era esposa de Urias, o guerreiro mais leal de Davi, porém seus olhos haviam se tornado na porta de entrada para a concupiscência dos olhos, e quando isso ocorre, passamos a nutrir um desejo desenfreado por possuir o que é do outro.

Uma das formas de guardar nossa menina dos olhos é justamente buscar estar no lugar onde Deus quer que estejamos. Era para Davi está na guerra junto com seus homens! Uma vez estando no lugar errado, na hora errada ele acabou fazendo a coisa errada.

Ora, Davi era rei e tinha várias concubinas, ele não precisava do ponto de vista da necessidade tomar a mulher do outro, mas a cobiça dos olhos leva o homem a ser avarento e a querer possuir o que é do outro. A posse se torna em um fim, fazendo com que o homem não se contente com o que tem e sempre fique achando que a grama do vizinho é mais verde.

Devido ao fato, Davi foi repreendido por Deus através do profeta Natã, e a maneira que o profeta encontrou para trazer o rei à consciência foi contando- lhe uma parábola descrita em 2 Samuel 12: 1 ao 7:

“...Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha cousa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado.”  (Versos 1 ao 4)

Neste momento, Natã ficou só esperando a reação de Davi.

“Então, o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o Senhor, o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal cousa e porque não se compadeceu.” (Versos 5 e 6)

A ficha de Davi ainda não havia caído. Incrível como a cobiça dos olhos faz com que sejamos complacentes conosco e exigentes com o outro.

“Então disse Natã a Davi: Tu és o homem...” (Verso 7ª)

Davi levou um tapa sem mão!

O que a Graça de Deus nos dá é o suficiente para nós. Quem vive em função da cobiça dos olhos, ainda não reconheceu a Graça de Deus em sua vida. O senso de Graça nos leva a perceber que tudo aquilo de que precisamos Deus já nos deu. Davi se esqueceu disto.

Quando ele era menino e se apresentou para enfrentar o gigante Golias, Saul que era o rei na época, o chamou no palácio e ofereceu a sua armadura, mas Davi não aceitou aquela oferta. Antes, Davi foi enfrentar Golias confiante na força do braço do Senhor dos Exércitos. (1 Samuel 16: 38 ao 40)

A confiança em Deus nos leva a atentarmos para aquilo que temos recebido, ainda que aos olhos humanos seja pouco, mas sabemos que nos basta, pois procede da Graça.

Davi derrubou o gigante fazendo uso do que ele já tinha, a saber, uma funda e uma pedrinha. Na ocasião ele não trocou o pouco (funda e pedra) pela oferta do muito (armadura de Saul). Não caiu na tentação da avareza e da posse. O que ele havia recebido de Deus era o suficiente.

Anos depois, já como rei, ele tinha muito (concubinas) e trocou pelo pouco (a mulher de um outro homem). Houve uma inversão de valores. A concupiscência dos olhos nos leva a olhar para o que temos e achar que não é o suficiente e assim buscamos “terraços” para mirar em alguma “Bate – Seba”, ou em uma “cordeirinha” do vizinho pobre.

Davi reconheceu seu pecado (2 Samuel 12:13) e pediu perdão para Deus (Salmo 51). No entanto, o menino que nasceu dessa gravidez adulterina morreu por juízo divino (2 Samuel 12: 15 -18), o que deixou Davi muito abatido.

Interessante que o nome Bate – Seba, significa “filha do ajuste”. Deus é o grande alquimista da história e Davi teve com ela mais quatro filhos, incluindo Salomão, que sucedeu ao trono de Israel (I Crônicas 3:5) e cumpriu a promessa de construir um templo para Deus.

Depois desta experiência Davi aprendeu a lição, olha o que ele diz no Salmo 101: 3:

Não porei cousa má diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará.”

Aqui fica evidente que Davi aprendeu a se relacionar com sua pupila dos olhos, pois precisamos submete-la à mente de Deus e não obstante precisamos vigiar.

Mentorear e Vigiar, dois processos fundamentais para não cairmos na tentação da cobiça dos olhos. No primeiro, desenvolvemos a mente para que ela tome o controle da pupila. Já no segundo, evitamos colocar os olhos onde eles não foram chamados.

Temos que tomar cuidado para não ter o desleixo de sair colocando os olhos em qualquer lugar. Se eu sei que minha carne é tentada para um determinado vício, se reconheço este meu calcanhar de Aquiles, para que vou colocar coisas más diante dos meus olhos, para que cutucar a onça com vara curta?

Portanto o resultado de uma pupila discipulada pela mente de Deus é que ela fica mais esperta e assim busca fugir da aparência do mal. Vale ressaltar que o pecado entrou na humanidade pelos olhos, veja:

Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, ele comeu. Abriram- se então os olhos de ambos. Gênesis 3: 6 -7.

O primeiro efeito do pecado no homem foi fazer com que seus olhos fossem abertos. Neste sentido, não era nada bom ter os olhos abertos, pois o que se abriu foi o olhar da cobiça. Naquele momento pós queda, as pupilas do homem foram dilatadas transformando o seu olhar em uma porta larga, aquela mesma que Jesus diz que nos conduz para perdição. Porta larga não tem filtro, passa tudo e assim a porteira da concupiscência do olhar foi escancarada.

Por mais paradoxal que pareça, o fato é que quando nos afastamos de Deus nossa mente vai atrofiando e nossos olhos vão se abrindo para a cobiça.

Ora, se ao nos afastar Dele nossos olhos se abrem, ao nos aproximar ocorre o efeito contrário: nossa mente é expandida e nossos olhos são fechados. É como olhar para o Sol, a mesma luz que ilumina o entendimento é a mesma que nos cega os olhos. O apóstolo Paulo sentiu justamente esta sensação, repare:

“Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que tu me persegues? ... Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos nada podia ver. E guiando- o pela mão, levaram- no para Damasco. Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu, nem bebeu.” Atos 9: 3 ao 4 e 8 ao 9.

Qual o foi o primeiro efeito em Adão e Eva quando eles pecaram? Tiveram seus olhos abertos. E qual foi o primeiro efeito em Paulo quanto este foi encontrado pela Luz de Cristo a caminho de Damasco? Ele ficou cego.

Se ao pecar nossos olhos são dilatados transformando-se na porta larga que nos conduz para perdição, ao sermos encontrados por Cristo nossos olhos são cegados transformando-se na porta estreita que conduz para salvação.

É no encontro com Aquele que é o Sol da Justiça e de preferência ao meio dia, que é quando a luz alcança seu apogeu e onde não existem sombras, que nossa cobiça dos olhos é cegada.  Precisamos nos apresentar à Deus sem sombras, sem maquiagem, assumindo nossas fraquezas e misérias, é para se apresentar diante Dele completamente nu.

Uma pupila cega fica mais fácil de ser guiada, dá muito menos trabalho do que uma pupila dilatada. 

Uma pupila dilatada é o equivalente a uma menininha que pensa ser mulher, é o pior cenário, ela pensa que é a dona do mundo.

O homem com os olhos abertos só se atenta para o seu próprio umbigo, são os inimigos da Cruz, cujo o deus deles é o ventre e a glória deles está na sua infâmia (Filipenses 3: 18 e 9).

Esta cego em Cristo, significa morrer para si, o homem se torna dependente de Deus. Eu diria que está cegueira, fruto deste encontro com Cristo, nos blinda.

A palavra blindar vem do francês blinder, derivado do alemão blinde, que significa “instalação oculta para a proteção de militares. O termo origina-se também do germânico blindaz, ou “cegar”. Em inglês, a palavra evoluiu para blind, que hoje quer dizer “cego”. A ideia moderna do termo blindagem é revestir o que quer que seja.

Portanto, quando somos encontrados pela luz de Cristo, somos revestidos Dele. Por isso que Paulo fala aos efésios para tomai toda armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.” Efésios 6:13

Repare, é para tomar toda armadura de Deus e não a de Saul. Tomar toda armadura de Deus equivale a se revestir de Cristo, ou seja, é vestir-se Dele. Em Cristo somos blindados no sentido de sermos revestidos Dele e de ficarmos cegos para a cobiça do olhar.

Cristo, para nos fazer enxergar, primeiro Ele nos cega.

E assim, uma vez revestidos Dele e cegos para nós mesmos, temos condições de viver em função de Deus e do bem de todos, não mais fazendo a vontade da nossa pupila, ou da cobiça dos olhos.

No próximo post falaremos sobre a soberba da vida e sua relação com o poder.

Nenhum comentário: