Por Bruno Jardim
Etimologicamente, pecado
significa “errar o alvo”, é viver para si mesmo sem levar em conta nada
e ninguém, colocando em primeiro lugar a própria necessidade.
A passagem utilizada como texto
áureo nos fornece o tripé sobre qual o pecado se escora. O pecado busca atuar em
nossas vidas tomando como base as nossas próprias concupiscências (cobiças) da
carne, dos olhos e soberba da vida.
Em uma análise mais profunda, é
possível constatar o que está por trás de cada categoria de concupiscência, veja:
Na concupiscência da carne está o
desejo pelo prazer;
Na concupiscência dos olhos está
o desejo pela posse;
Na soberba da vida está o desejo
pelo poder.
Na sentença que sofrera no Éden a
serpente foi condenada a se alimentar do pó
da terra (Gênesis 3:14). Vale frisar que o homem é feito da terra e o pó da
terra “é o resto, o lixo”, portanto o inimigo se alimenta do nosso lixo, do
nosso pecado! Por isso que em Jó, ao ser perguntado por Deus de onde vinha, ele
respondeu: “de rodear a terra e passear
por ela” (Jó 1:8). Ao rodear a
terra, o inimigo está em busca de se alimentar dos pós (cobiça da carne, cobiça
dos olhos e soberba da vida) produzidos pelo próprio homem.
No pecado, os meios se tornam em
fins, ele nos gera uma ilusão de que alcançamos o alvo, mas na realidade ficamos
estagnados nos meios que deveriam ser utilizados para atingir os fins.
Prazer, posse e poder, são os meios
que o pecado transforma em fim. E como resultado, o homem se tornar um ser hedonista,
avarento e soberbo respectivamente.
Não fomos criados para o prazer,
posse e poder. Antes, fomos criados para o
propósito, partilha e provisão.
O prazer é o bônus que temos
quando cumprimos o propósito, a posse é para compartilharmos o que
temos recebido e por fim, o poder é a posição que Deus nos coloca para sermos
um canal de provisão.
Ninguém passa por esta vida sem
ser tentado na área do prazer, posse e poder. Nem mesmo Cristo foi poupado. ELE
também foi tentado em cada uma destas áreas, porém não caiu em nenhuma delas.
Gostaria de analisar nos próximos
posts, cada uma destas tentativas, pois a abordagem se repete nos dias de hoje,
e precisamos aprender com Cristo o escape para cada uma destas tentações.
Neste post, vamos abordar a Tentação da Concupiscência da Carne:
“Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito Santo ao deserto, para ser
tentado pelo diabo. E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois
teve fome; e, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus,
manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém respondendo, disse: Está
escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de
Deus.” (Mateus 4: 1 ao 4)
Quando somos guiados pelo Espírito
Santo para onde Ele nos leva? Eis uma boa questão! A bíblia diz que todos que
são filhos de Deus são guiados pelo Espírito de Deus (Romanos 8:14). Porém, a
gente imagina que o Espírito Santo quando nos guia, Ele nos leva somente à
cenários paradisíacos, em meio a campos verdejantes. Isto é verdade, muitas
vezes Ele nos conduz a estes lugares maravilhosos e alegres. Mas, também é
verdade que as vezes Ele nos leva à lugares indesejáveis, onde preferíamos jamais
pisar os pés.
Jesus havia acabado de viver uma
experiência extraordinária quando foi batizado. O texto diz nos versos anteriores
que o céu se abriu, o Espírito Santo desceu em forma corpórea de uma pomba,
pousou sobre a cabeça de Jesus e lá do céu se ouviu a voz de Deus dizendo: “Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo.” (Mateus 3:17)
Agora, após este êxtase, o
Espírito Santo toma Jesus e O leva para o deserto com o objetivo de ser tentado
pelo diabo. Ou seja, Jesus não poderia prosseguir Seu ministério, cumprir Sua
missão, sem antes passar por esta tentação. Caso Ele não saísse aprovado desta
tentação, Ele não poderia lá na frente morrer por nós e concluir assim a missão
recebida do Pai.
Quando o Espírito Santo nos leva
para o deserto, não significa que ali seja o nosso destino. O deserto é um
lugar pelo qual temos que passar a fim de sermos provados e uma vez aprovados,
estarmos aptos para o cumprimento da nossa missão.
Portanto, não adianta fugir,
querer queimar etapas, achando que conosco será diferente, mais cedo ou tarde seremos
levados por Deus ao deserto. E aqui vale
frisar que o diabo não leva ninguém para o deserto. O que ele faz é aproveitar-se
daquele ambiente inóspito e de privação para nos tentar. O Espírito Santo não tentou Jesus, quem deveria
fazer isto é o diabo, como o fez.
Depois de passar quarenta dias e
quarenta noites sem comer é obvio que Jesus teve fome. Com isso, o cenário
estava perfeito, pois no deserto não havia para onde recorrer. Neste momento, o
tentador se aproxima e diz: “Se tu és o
Filho e Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.”
Repare que quarenta dias antes Jesus
ouviu da boca do Pai: “Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo.” Agora, justamente esta Palavra que saiu da
boca do Pai é colocada em cheque pelo diabo.
A tentação sempre parte disto: colocar dúvida em nosso coração quanto
àquilo que Deus falou.
Foi assim lá no jardim do Éden
quando a serpente disse para Eva: “É
assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? E disse a mulher à
serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que
está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para
que não morrais. Então, a serpente disse à mulher: Certamente que não
morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os
vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo do bem e o mal.” (Gênesis 3: 1 ao
5).
Pronto, a serpente conseguiu
colocar a dúvida no coração de Eva quanto àquilo que Deus havia falado.
A salvação é pela Graça, mediante a Fé, (Efésios 2:8a) porque a perdição
foi mediante a dúvida.
Nós nos
perdemos no momento em que duvidamos da Palavra de Deus. Por isso, que a Fé vem
pelo ouvir, e ouvir pela Palavra de Deus. (Romanos 10:17) Ao ouvir a Palavra de
Deus a Fé brota em nosso coração.
Voltando para o cenário do deserto,
o inimigo pede para Jesus provar-lhe que de fato era Filho de Deus fazendo a sugestão
para transformar pedras em pães.
Ora, Jesus não estava com fome? E
sendo Filho de Deus, não tem poder para transformar pedras em pães? O que
haveria de errado nisso? Ele iria unir o útil ao agradável: iria saciar Sua
fome e ainda provaria para o inimigo que era o Filho de Deus.
Não existiria nada de errado, do
ponto de vista ético ou moral, transformar pedras em pães. O problema é o que está
por trás da sugestão do inimigo. Não pense que quando o inimigo nos tenta, ele
sempre nos tenta no campo da ética e da moral. Nos induzindo a mentir,
adulterar, roubar ou a fazer alguma coisa que sabemos ser errado. Às vezes,
seremos tentados por ele para fazermos coisas inocentes.
Quem é que condenaria Jesus ao flagrá-Lo
transformando pedras em pães? Ele estava com fome! Qual o problema?!
O problema é que caso Jesus
houvesse cedido a esta tentação, Ele estaria usando o Seu poder de Filho de Deus
para benefício próprio, para satisfazer Suas próprias necessidades e assim
cairia na tentação da concupiscência da
carne.
Qual a diferença de transformar pedras
em pães e de multiplicar cinco pães e dois peixinhos? O poder não é o mesmo? Só
que quando Ele multiplicou os pães e os peixinhos não foi pensando em Seu
próprio prazer, foi para alimentar uma multidão. Vale ressaltar que os cinco
pães e dois peixinhos que foram disponibilizados para Ele, eram para o Seu
consumo próprio. Ele poderia ter se escondido atrás de uma moita qualquer e
comido que ninguém ficaria sabendo, e aquelas pessoas iriam sair com fome. Ao invés
disso, Ele multiplicou para saciar a todos.
Quando o inimigo nos assedia, o
que ele deseja é fomentar em nós o egoísmo, como diz o ditado: “farinha é pouca, meu pirão primeiro."
Jesus não cedeu, Ele disse: “Está
escrito: Nem só de pão viverá o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.”
Precisamos de pão? Sim,
precisamos. Temos nossas necessidades básicas e Deus as conhecem. Porém, nosso
prazer não deve estar atrelado na satisfação das necessidades, mas ao
cumprimento do propósito, que por sua vez, nós conhecemos por meio da Palavra que
sai da boca de Deus.
Temos que aprender a verificar
qual a procedência de qualquer palavra ou sugestão que tem chegado a nós.
Procede da boca de Deus, do diabo ou da carne? Sem este discernimento corremos
o risco de trocar o propósito pelo
prazer da necessidade.
Assim Cristo foi provado e
aprovado na tentação da concupiscência da carne e manteve o foco na missão, no
propósito que Ele havia de cumprir.
Nos próximo post, falaremos sobre
a tentação da concupiscência dos olhos que nos leva a saciar o desejo da posse.
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