sábado, junho 25

TÁ LÁ UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO



Por Bruno Jardim

Estes últimos dias foram pesados, minha vontade era ficar enclausurado em uma redoma a fim de não me deparar com a realidade do mundo. Mas, a banca de jornal que todo dia eu passo em frente, me fazia questão de lembrar. O telejornal da hora do almoço, me fazia questão de lembrar. O Facebook, me fazia questão lembrar. Os grupos de whatsApp, me faziam questão de lembrar.
Eu não queria aceitar, mas não tem como negar este clima pesado no ar. Como não perceber MAIS UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO!
Confesso que não encontrava argumentos, o que falar? De uma coisa é certa, não posso me esquivar, esta realidade tenho que encarar.
Chegou a hora de subir ao púlpito para pregar. Coração despedaçado, voz embargada e a pergunta que não queria calar: QUEM É O MEU PRÓXIMO?
Me dei conta que nestes últimos dias estamos recapitulando a parábola popularmente conhecida como “A Parábola do Bom Samaritano”.
Lá vem o sacerdote e o levita, figuras importantes da religiosidade, pessoas acima da moral e santidade, porém, PASSAM DE LARGO e nem dão bola para o moribundo que ali estava caído.
Lá vem o samaritano, sujeito estranho, alvo de toda rivalidade e preconceito. Mas, que age de forma antagônica aos religiosos.
Os religiosos PASSARAM DE LARGO. O samaritano CHEGOU AO PÉ DO MORIBUNDO.
Os religiosos FINGIRAM QUE NÃO VIRAM E TOMARAM OUTRA DIREÇÃO. O samaritano VENDO- O, MOVEU- SE DE ÍNTIMA COMPAIXÃO.
Os religiosos SE AFASTARAM, pois precisavam usar o VINHO e AZEITE na oferta de libação no Templo. O samaritano SE APROXIMOU, pois precisava usar o VINHO E AZEITE para tratar as feridas daquele corpo estendido no chão.
Definitivamente o culto que prestamos ao Senhor deve ser traduzido em serviço prestado ao nosso próximo. A agenda do Reino é eclesiástica, ou seja, voltada para fora da igreja, nossa paróquia é o mundo!
No evento que precede a parábola, Jesus pergunta ao mestre da Lei: “O QUE DIZ AS ESCRITURAS? COMO LÊS?”
Uma clara provocação de caráter objetivo e subjetivo. Objetivamente falando, aquele mestre tirou nota 10! Mas, subjetivamente falando ele ainda tinha muito o que aprender.
Quem olha de longe, de forma superficial, pode até saber “O QUE ESTÁ ESCRITO”, mas não sabe “COMO LÊS” a vida.
Quem PASSA DE LARGO, olha o moribundo e diz:
- “Ela fez alguma coisa para merecer isso.” 

- “Viu a roupa que ela estava vestindo?”
- “Parece que tava drogada...”
- “16 anos, mas já tem filho.”

Mas, um olhar subjetivo requer atenção, não dá para faze- lo olhando superficialmente. Só quem se aproxima ao pé da vítima é que consegue enxergar as verdadeiras feridas. É preciso um segundo olhar, não um olhar de segundas intenções para julgar, mas sim para avaliar a real situação e fazer um diagnóstico com precisão.
Para tal, é preciso tirar as sandálias dos pés, pois o lugar onde pisamos é santo. A subjetividade do outro é o lugar santo! Se quisermos pisar nele, precisamos nos despir por inteiro, só assim teremos compaixão e nos livraremos da anestesia religiosa, que continua sendo o ópio do povo.
Não basta saber O QUE ESTÁ ESCRITO, temos que saber COMO LER.
A única maneira de lermos o outro é através das lentes do Amor. Amor que aproxima o distante e torna o diferente em semelhante.
Que rasga o véu do preconceito e da indiferença e nos faz um só corpo. Nos dando senso de pertencimento para sermos suscetíveis às mesmas dores, que nos faz ter o mesmo sentimento que houve Nele.


Nenhum comentário: