Por Bruno Jardim
Eu
não queria aceitar, mas não tem como negar este clima pesado no ar. Como não
perceber MAIS UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO!
Confesso
que não encontrava argumentos, o que falar? De uma coisa é certa, não posso me
esquivar, esta realidade tenho que encarar.
Chegou
a hora de subir ao púlpito para pregar. Coração despedaçado, voz embargada e a
pergunta que não queria calar: QUEM É O MEU PRÓXIMO?
Me dei
conta que nestes últimos dias estamos recapitulando a parábola popularmente
conhecida como “A Parábola do Bom Samaritano”.
Lá
vem o sacerdote e o levita, figuras importantes da religiosidade, pessoas acima
da moral e santidade, porém, PASSAM DE LARGO e nem dão bola para o moribundo
que ali estava caído.
Lá
vem o samaritano, sujeito estranho, alvo de toda rivalidade e preconceito. Mas,
que age de forma antagônica aos religiosos.
Os
religiosos PASSARAM DE LARGO. O samaritano CHEGOU AO PÉ DO MORIBUNDO.
Os religiosos
FINGIRAM QUE NÃO VIRAM E TOMARAM OUTRA DIREÇÃO. O samaritano VENDO- O, MOVEU-
SE DE ÍNTIMA COMPAIXÃO.
Os
religiosos SE AFASTARAM, pois precisavam usar o VINHO e AZEITE na oferta de
libação no Templo. O samaritano SE APROXIMOU, pois precisava usar o VINHO E
AZEITE para tratar as feridas daquele corpo estendido no chão.
Definitivamente
o culto que prestamos ao Senhor deve ser traduzido em serviço prestado ao nosso
próximo. A agenda do Reino é eclesiástica, ou seja, voltada para fora da
igreja, nossa paróquia é o mundo!
No
evento que precede a parábola, Jesus pergunta ao mestre da Lei: “O QUE DIZ AS
ESCRITURAS? COMO LÊS?”
Uma
clara provocação de caráter objetivo e subjetivo. Objetivamente falando, aquele
mestre tirou nota 10! Mas, subjetivamente falando ele ainda tinha muito o que
aprender.
Quem
olha de longe, de forma superficial, pode até saber “O QUE ESTÁ ESCRITO”, mas
não sabe “COMO LÊS” a vida.
Quem
PASSA DE LARGO, olha o moribundo e diz:
-
“Ela fez alguma coisa para merecer isso.”
- “Viu a roupa que ela estava vestindo?”
- “Parece que tava drogada...”
- “16 anos, mas já tem filho.”
Mas,
um olhar subjetivo requer atenção, não dá para faze- lo olhando
superficialmente. Só quem se aproxima ao pé da vítima é que consegue enxergar
as verdadeiras feridas. É preciso um segundo olhar, não um olhar de segundas
intenções para julgar, mas sim para avaliar a real situação e fazer um
diagnóstico com precisão.
Para
tal, é preciso tirar as sandálias dos pés, pois o lugar onde pisamos é santo. A
subjetividade do outro é o lugar santo! Se quisermos pisar nele, precisamos nos
despir por inteiro, só assim teremos compaixão e nos livraremos da anestesia
religiosa, que continua sendo o ópio do povo.
Não
basta saber O QUE ESTÁ ESCRITO, temos que saber COMO LER.
A
única maneira de lermos o outro é através das lentes do Amor. Amor que aproxima
o distante e torna o diferente em semelhante.
Que rasga o véu do preconceito e da indiferença e nos faz um só
corpo. Nos dando senso de pertencimento para sermos suscetíveis às mesmas
dores, que nos faz ter o mesmo sentimento que houve Nele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário