sábado, junho 25

O Encontro das Águas

Foto: o encontro do rio São Francisco com o Mar.

Por Bruno Jardim

O caminho natural das águas dos rios de toda a Terra é sempre o mar. É possível perceber que existe na natureza um senso de pertencimento, pois é ao mar e não à terra que as águas pertencem. Porém, nem todas as águas dos rios seguem para o mar. Algumas tem o objetivo de abastecer lagos, lençóis freáticos e até mesmo outros rios. Por definição a área onde o rio encontra o mar é chamada de Delta.

Existe um rio na Terra que não corre para o mar, nem para lagos e muitos menos para lençóis freáticos: o Rio Okavango é o único rio do planeta que desagua no Deserto.

As águas do rio Okavango, que vêm das terras altas de Angola, percorrem mais de mil quilômetros e são despejadas numa espécie de bacia, num grande recipiente formado pelas falhas geológicas de Gomare e Kunyere em Botsuana na África, formando o maior Delta do mundo: o Delta do Okavango.

As águas espalham-se como lagos pelas terras secas e sedentas do deserto de Kalahari dando origem a um ecossistema, um lugar de fertilidade e sobrevivência em meio à desolação do deserto. Animais de grande e pequeno porte, répteis, voadores e roedores reconhecem no alagado uma rica fonte de alimento.

Interessante, pois assim como as águas de toda a Terra sempre buscam o mar, as águas de Deus “saem para a região oriental, e descem ao deserto, e entram no mar; e, sendo levadas ao mar, as águas tornar-se-ão saudáveis. E toda a criatura vivente que passar por onde quer que entrarem estes rios viverá; e haverá muitíssimo peixe, porque lá chegarão estas águas, e serão saudáveis, e viverá tudo por onde quer que entrar este rio.” Ezequiel 47:8,9

Na simbologia bíblica, “mar” representa separação: “Mas os ímpios são como o mar agitado que não se pode aquietar, cujas águas lançam de si lama e lodo.” Isaías 57:20

Por conta do salário do pecado que é a morte, os homens passaram a viver em um abismo escuro, completamente separados da fonte de Vida. Contudo, ainda podem ser resgatados pelo Espírito de Deus.

O mundo que foi alvo do amor de Deus, inclui todas as almas. Não existe monopólio da Graça e do Amor, sejam judeus, gregos ou gentios, o mar do mundo é composto por todo tipo de gente.

O Amor é a fonte de onde as águas de Deus jorram. A Graça é o Amor de Deus em operação. Portanto, a Graça é o rio de Deus por onde este Amor flui entre os homens.

Inspirado pela perfeição da natureza, o escritor diz: “Todos os rios vão para o mar, contudo o mar nunca se enche; ainda que sempre corram para lá, para lá voltam a correr” Eclesiastes 1:7.

Tendo em vista que os rios representam a Graça de Deus e que o mar aponta para os povos que por conta do pecado estão separados, podemos ler a passagem acima citada da seguinte forma:

“Toda Graça que recebemos vai para o próximo, contudo o próximo nunca se encherá; ainda que a Graça sempre corra para lá, para lá voltará a correr.”

A Graça foi feita para o outro. Ela não é ensimesmada, mas se volta para fora. Ela sacia nossa sede de existência, ao passo que atiça nossa sede por ciência.

Fomos chamados por Deus para sermos como o rio Okavango, as águas que temos recebido da fonte de Seu Amor é para serem desaguadas na vida desértica do outro.

Durante nossa jornada da vida, iremos nos deparar com pessoas que precisam exatamente do que temos recebido de Deus. É desta forma que o Amor de Deus transforma “o deserto em lagos de águas, e a terra seca em mananciais de água.Isaías 41:18

Ao chegar numa cidade samaritana chamada Sicar, Jesus sentou- se junto a um poço para descansar. De repente uma mulher samaritana se aproximou para tirar água. Isto era uma rotina daquela mulher, todos os dias ela buscava água naquele poço. Porém, aquele não era o único “poço” do qual ela buscava água, sua sede existencial fazia com que ela buscasse em múltiplos relacionamentos o preenchimento de um vazio. Ela já havia tido cinco maridos, e o homem com quem agora ela se relacionava não era seu marido.

Poços não saciam nossa sede existencial, no máximo nos dá um alívio, supre uma necessidade pontual, mas não nos preenche de propósito.

Sabendo disto, Jesus oferece para ela a água viva, que uma vez experimentada, sacia nossa sede existencial. Aquele poço se transformou em uma espécie de "área Delta", onde o rio de águas vivas se encontrou com o mar desértico daquela mulher.

Ao experimentar da água viva, imediatamente aquela mulher deixou de lado o seu cântaro e foi correndo à cidade espalhar entre os moradores a sua descoberta: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?” João 4:29

Até então ela nunca havia se sentido preenchida, os homens a usavam como objeto, mas agora ela se sentiu amada e saciada. Uma vez tendo sua sede de existência saciada, ela tem sua sede por ciência despertada e sai correndo movida pela seguinte pergunta: “Porventura não é este o Cristo?”

Agora, a mulher que outrora era deserto se transformou em rios de águas, a terra seca deu lugar aos mananciais de água. E assim como o destino de todo rio é passar adiante suas águas, assim ela o fez.

O sentido da vida é passar adiante o que temos recebido. O Amor que vem do Alto gera a força que nos move em direção ao outro. 

O Amor é um indo e vindo infinito...

Tudo Vem Dele, passa por mim, chega no outro, volta para Ele e vem Dele novamente. Nisto reside o círculo vicioso do amor.

O Amor gera aproximação, o que antes era distante, torna- se próximo. Quem era diferente, torna-se semelhante, pois "agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegaste perto. Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um, e destruiu a parede de separação, a barreira de inimizade que estava no meio, desfazendo na sua carne” Efésios 2:13-14

Não desperdice as oportunidades que a vida nos oferece de amar. Transforme qualquer lugar em uma "área Delta", onde as águas dos rios da Graça irão se encontrar com o mar morto do seu próximo, a fim de o reviver e fazer dele um rio de águas vivas para levar vida à outros mares e desertos. 

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