quarta-feira, fevereiro 10

Eu fico com a pureza das respostas das crianças


Por Bruno Jardim

Seu ministério estava no ápice por conta de todo prodígio então realizado. Já era possível ouvir um burburinho oriundo da multidão: “será este o tão sonhado Messias?” É neste cenário que Jesus se aproxima de Jerusalém, para aquele episódio conhecido como a “Entrada Triunfal”.

Na expectativa daquele povo, a agenda do Messias era de cunho político. Alguém que viria promover uma rebelião, um levante contra Roma a fim de a depor do poder e assim restaurar aos judeus sua nacionalidade perdida.

Jesus quebra todo um paradigma fantasioso do povo ao adentrar em Jerusalém montando em um jumentinho emprestado: “Trouxeram a jumenta e o jumentinho, e sobre eles puseram as suas vestes, e fizeram-no assentar em cima.” (Mateus 21:7)

Interessante ressaltar que o fato de colocarem suas vestes sobre o jumento, atribuiu valor para aquele animalzinho. Da mesma forma, em Cristo somos chamados a atribuir valor/dignidade a quem aos olhos humanos nada tem.

Por meio de Seu sacrifício, Ele fez de nós bem mais do que podíamos ser, excedendo assim nosso valor. Entramos com o trapo de imundice dos nossos pecados e Ele com Suas vestes de justiça.

Tudo o que Deus faz conosco, tem como propósito para que em nós seja passado adiante para o outro. O mesmo olhar de misericórdia com o qual Ele nos enxerga, sem termos absolutamente nada para oferecer, é o mesmo com o qual devemos olhar o nosso próximo.

O que deveria nos movimentar em direção ao próximo é aquilo o que ele É e não o que ele TEM. Deve existir em cada um de nós a disposição de “revestir o outro com nossas vestes”, e assim atribuir significado para a vida alheia.

Aquele jumentinho era o cumprimento das profecias! “E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito: Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta.” Porém, “os seus discípulos, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi glorificado, então se lembraram de que isto estava escrito dele, e que isto lhe fizeram.” (João 12:14-16)

Ao ordenar que os discípulos saíssem em busca de um jumentinho, eles não entenderam nada, aquilo não fazia sentido. O texto diz que a “ficha só caiu” quando Jesus foi glorificado, ou seja, na última etapa do processo da Redenção.

Existirão coisas que não compreenderemos de primeira, pois a obra ainda estará em andamento. Nossa visão é míope e efêmera. Já Deus enxergar o todo, por isso que Seus pensamentos e caminhos são maiores que os nossos. (Isaías 55:9)   

Quando estamos conectados com o que Deus diz, temos maior facilidade de perceber que nada acontece aleatoriamente, para tudo existe um propósito. Mas, quando cedemos ao vício de ler a vida a partir de nossos paradigmas fantasiosos, não conseguimos ver sentido e tão pouco conectar os fatos. É assim que o senso de sentido dá lugar a confusão.

A confusão é resultado da nossa desconexão de Deus. Nos desconectamos quando agimos contrário àquilo que Deus tem para nós, ou seja, a desconexão é fruto do pecado. Pecado tem a ver com errar o alvo. Deus nos chama para algo, mas optamos por seguir outro caminho.

Foi o que aconteceu no Jardim do Éden: a ordem era para não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas o homem agiu contrário àquilo que Deus havia ordenado e assim pecou. Ao pecar o homem foi desconectado da árvore da vida e se tornou refém da morte, que é a consequência do pecado.

Assim como D.Pedro I deu seu grito de independência às margens do Ipiranga, da mesma forma Adão e Eva o deram no Jardim do Éden. Só que neste caso, o que se ouviu não foi: "Independência ou morte!" Mas sim: "Independência É morte!"

Quando o homem se dá conta que pode viver por conta própria, confiando na própria dependência, ele morre.

Jesus se apresenta como “Eu sou a videira verdadeira...” (João 15:1). Videira significa árvore da vida! Portanto nosso pecado nos desconecta da árvore da vida.

Cada um de nós somos, por conta do pecado, ramos que saíram da videira e foram enxertados na árvore chamada Adão, a árvore do pecado. Uma vez conectados à árvore adâmica, os frutos que vamos gerar são frutos de pecado para morte.

Voltando para a entrada de Jerusalém, diz o texto que toda a multidão recebeu Jesus de forma épica! Tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.” (João 12:13)

Para surpresa de todos ao invés de Jesus se alegrar e entrar no clima, Ele não dá a mínima para aquele “oba – oba”.

Aqueles ramos de palmeiras que serviam de sinalizadores de boas-vindas, eram uma evidência da morte do homem. Pois uma vez estando nas mãos das pessoas, significava que eles não estavam mais na árvore. Uma vez desconectados da árvore, aqueles ramos não passavam de pedaços de morte.

Embora seja uma morte instantânea na essência, não o é na aparência. É instantânea pois de forma abrupta o ramo passa a não mais receber a seiva de vida da árvore, porém mesmo assim ele continua com a pigmentação de vida por alguns dias.

Assim somos nós, uma vez arrancados da árvore da vida, recebemos o salário do pecado que é a morte. Temos aparência de vida, mas estamos mortos! Nos tornamos em “ramos de palmeiras nas mãos dos homens”.

Estes ramos representam também nossa religiosidade, nossa performance que de alguma maneira acredita ser possível barganhar com Deus.

Uma vez desconectados, precisamos desesperadamente chamar a atenção Dele para tentar ser merecedor de alguma coisa. Vivemos assim em um caminho contraproducente ao da Graça, pois ela é um favor imerecido.

Quando se está conectado na árvore da vida o que se vê são os frutos, que surgem sem chamar atenção e sem fazer barulho. Por outro lado, quando estamos desconectados, o que se ouve é o barulho da força querendo produzir de formar artificial aquilo que só o Espírito é capaz de produzir de forma natural.

"Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda."   (João 15:16)

Como um ramo desconectado da árvore tem condições de dá frutos? Só é possível frutificar estando preso e enraizado à árvore da vida. Fora disso, o que resta é morte.

Um ramo fora da árvore tem sua aparência de vida com os dias contados, logo a pigmentação de vida cede lugar a sequidão da morte. Mas, um fruto oriundo do ramo conectado ao Pai, está destinado a permanecer para sempre. Ora, se cada árvore produz segundo a sua espécie, o que esperar dos frutos do amor, senão que durem para sempre?

Como falamos no início, a expectativa daquele povo era que Cristo entrasse em Jerusalém e dali fosse em direção ao palácio para tomar o poder. Mas, ao invés de ir para o palácio tomar o poder, Ele se dirige para o templo a fim de derrubar o poder religioso vigente na época.

“Jesus entrou no templo e expulsou todos os que ali estavam comprando e vendendo. Derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e lhes disse: "Está escrito: ‘A minha casa será chamada casa de oração’; mas vocês estão fazendo dela um ‘covil de ladrões’". (Mateus 21:12,13)

Jesus não só “quebra a firma”, mas aproveita e cura os cegos e os mancos que aproximaram-se Dele no templo. (Mateus 21:14)

“Mas quando os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei viram as coisas maravilhosas que Jesus fazia e as crianças gritando no templo: "Hosana ao Filho de Davi", ficaram indignados, e lhe perguntaram: "Não estás ouvindo o que estas crianças estão dizendo? " Respondeu Jesus: "Sim, vocês nunca leram: ‘dos lábios das crianças e dos recém-nascidos suscitaste louvor’?" (Mateus 21:15,16)

Repare que assim como a multidão gritava “Hosana”, ao chegar no templo Jesus é recebido por crianças que também gritavam: "Hosana ao Filho de Davi." 

Os ramos de palmeiras e os “Hosanas” da multidão não chamaram a atenção Dele, mas o "Hosana" singelo das crianças conseguiu tocar o Seu coração. O primeiro evidencia nossa independência de Deus, já o segundo a nossa dependência, pois uma criança é totalmente dependente, ela precisa dos cuidados do Pai. 

O “Hosana” das crianças era “sem ramos!” Era fruto da naturalidade e não da superficialidade!

Urge resgatarmos a simplicidade do evangelho, abandonar os rótulos e as performances que só visam chamar atenção e alimentar nosso ego.  A única coisa que há em nós e que chama atenção de Deus são nossos pecados, a ponto Dele se entregar por Amor, para nos salvar.

Quando estamos conectados Nele, o que há em nós é um senso de constante dependência. Por isso é que fico com “a pureza das respostas das crianças,” nelas sim “a vida é bonita e é bonita!”