Cacos e Recomeços

Por BRUNO JARDIM

As consequências de uma queda são incontroláveis. Lembro uma vez quando criança, que um cinzeiro caiu da mesa na sala de casa e espatifou- se no chão. Foi caco para tudo que é lado, inclusive entrou um bem perto do meu olho, até hoje tenho a cicatriz.

O problema é quando nas quedas da vida, alguns cacos entram em nossos olhos e viram ciscos. Nessas horas sempre preciso de gente para assoprar meus olhos e remover os cacos.

A partir daí, enxergo que, mais importante do que o lugar “ONDE” caímos, é o lugar “DE ONDE” caímos. No lugar ONDE caímos só há caco, tentar voltar lá vai machucar o pé. É preciso varrer o chão deste cômodo da vida para que nenhum caco escondido venha ferir os pés de quem por ali ainda passará. Feito isso, é voltar a olhar para o lugar “DE ONDE” caímos. Pois ali não há caco, mas sim nosso mosaico. A imagem completa antes da queda, com cada peça no lugar. É para lá que devemos voltar a fim de retomar a caminhada. Nem sempre é preciso voltar para o início, basta recomeçar do patamar de onde se caiu e fazer bom uso das lições aprendidas com as quedas.

Já tive caído e precisei ser levantado. Quem já sentiu o alívio depois de ter os olhos assoprados por alguém, aprende a tratar os caídos, pois passa a se enxergar neles. A gente aprende que o chão pode servir de cova ou jardim. Nele se enterra, mas também se planta e novas flores nascem. Porque um dia precisei de recomeço, que não nego isso a ninguém.

Sempre dá pra se refazer de caco em caco, até surgir novamente o mosaico...